A Globalização Nossa de Cada Dia

Abril de 2008

O sol já começava a brilhar por traz das montanhas. Aos poucos a multidão ia se formando junto aos barcos estacionados ao longo da praia. Como um enxame de abelhas pouco organizadas as pessoas iam se aproximando carregando seus pertences pessoais, suprimentos e suas mercadorias. No geral eram produtos artesanalmente produzidos como jóias de ouro e prata, adornos, vasos, peças de vidro, tecidos de lã bordados e utensílios domésticos de cobre e bronze.

O barulho ensurdecedor dos gritos e dos objetos jogados no chão dos barcos só silenciou quando o comandante, numa voz grossa e enérgica, deu a ordem para zarpar. Neste momento o coração de cada pessoa começou a bater em um ritmo mais acelerado. Homens fortes e corajosos de olhos arregalados pela ansiedade e pelo medo vislumbravam, de um lado o mar infinito a sua frente, de outro as pessoas queridas que permaneciam em terra.

Na medida em que os barcos se afastam da costa a ansiedade aumenta e toma conta de cada pessoa. Alguns homens, menos acostumados a essas situações de pressão, sentem tamanha contorção estomacal que chegam até a por para fora a sua última refeição. Diante do tamanho do desconhecido e das imagens que fazem dos perigos do mar sem fim alguns se jogam e voltam para terra firme como podem.

A grande maioria, porem, segue em frente. Numa mistura de responsabilidades de bordo e de frenesi quase histérico, esses homens se movimentam de um lado para outro cheios de afazeres. Muitas atividades extremamente necessárias e críticas para manter a embarcação em sua rota de largada. Outras, porém sem nexo, como baratas tontas de um lado para outro, e de volta para o mesmo lugar sem nenhuma razão aparente. Com gritos de ordem indicando lugares e atividades a serem executadas os mais experientes organizam os novatos colocando a embarcação em movimento.

Pouco a pouco, a movimentação provocada pelos gritos e a visão da realidade com um mar calmo tranquiliza os corações mais acelerados. A convicção de que a imensidão marítima não é tão assustadora reduz a grande quantidade de adrenalina dependida no momento da partida, e o raciocínio, agora mais claro e realista, se volta para os afazeres de rota. Corajosamente cada homem assume as suas atividades com a certeza de que elas são fundamentais para a realização de seus desejos.

Os afazeres diários, agora realizados rotineiramente de forma mecânica, a movimentação restrita pelas dimensões de um barco rudimentar, a calmaria de um mar quase sem ondas ou ventos fortes e a esperança de chegar ao seu destino, faz do dia a dia de navegação uma vivência, ao mesmo tempo tranquila e entediante. Sonolenta a população passa suas horas de vida letargicamente realizando suas tarefas e se espreguiçando pelos cantos. Até que numa manhã de céu azul e limpo alguém com voz clara a forte grita: Terra a vista!!!

Quão poderosas são essas palavras!

Penetrando pelos ouvidos e tomando de assalto o cérebro de cada pessoa, essas palavras provocam um verdadeiro furacão dentro de um lugar tão pequeno como aquele barco. Novamente, em segundos, o ritmo do coração daqueles homens se acelera a uma velocidade espantosa, as contorções viscerais se acentuam e a pernas parecem não sentir o chão. Numa correria desenfreada todos se empuleram para ver o que está à frente. Aos gritos, os comandantes lutam para forçar alguns a permanecerem em seus postos, já que o barco precisa continuar sua rota de chegada. Enquanto alguns dominam a embarcação na direção do continente, outros arrumam seus objetos para o grande desembarque. Mas todos, ansiosos pela incerteza do que vem à frente, se enchem de coragem e se posicionam prontos para entrar em ação.

Aproximando-se de terra firme, já se podem ver os povos que lá habitam. Num primeiro momento o espanto de ver pessoas tão diferentes. Cabelos de coloração e formato diferente, amarrados, pele de cor mais pálida, panos desajeitados e sujos a cobrir seus corpos e adornos nos braços. Nas mãos, grandes pedaços de paus pontiagudos indicavam que este contato pode não ser tão agradável como se pensava.

Já bem perto da praia alguns se lançam ao mar. Com os olhos esbugalhados pelo terror, se aproximam do povo nativo oferecendo parte dos objetos que traz em uma mão, e sua arma em outra.

Olhando nos olhos de seu ofertante o nativo examina seu presente com a curiosidade de um cientista prestes a descobrir o grande invento de sua vida. Em pouco tempo, com um sinal inesperado o nativo guardou seu presente e, delicadamente, empurra sua visita para terra. Com a aceitação por parte do nativo, outros começam a se aproximar e, logo, toda a população do barco se mistura com os nativos num mosaico de diferenças. Já em seus domínios, a população da terra oferece aos visitantes sua hospitalidade e objetos de sua produção.

Assim, os Fenícios, povo que viveu entre os anos 1000 e 146 a.C. Inauguraram a globalização!

Este povo fundou as cidades de Ugarit, Biblos, Sídon e Tiro, que se tornaram importantes entrepostos de comércio marítimo daquela época. Era como um portal de comércio internacional em seu micro! Onde hoje, com um simples clique do mouse você consegue realizar toda essa viagem.

Lauter F. Ferreira
Psicólogo CRP-06/09138-0
Autor dos livros: “Construindo Equipes de Alta Performance” e
                               “Alta Performance – Sete Forças Sob sua Pele”

Ayres & Ferreira Ltda.
A Ciência do Comportamento Aplicada – Pessoas e Organizações
lauterferreira@ayreseferreira.com.br
www.ayreseferreira.com.br